O mês de setembro de 2011 marcou o início de um ciclo de redução da taxa básica de juros por parte do Banco Central
(Bacen). Naquele momento, a instituição percebeu sinais de que a crise internacional não seria superada rapidamente,
e os impactos sobre a economia brasileira poderiam ser amenizados com a redução da taxa de juros. Tal processo levou a Selic a 7,25% a.a. em outubro de 2012, trazendo a taxa de juros real ao menor nível da história. No entanto, o Bacen
não foi capaz de sustentar a redução. As pressões inflacionária e política convergiram para o início de um ciclo de aumento em abril de 2013, encerrado apenas no último mês.
Nesse ínterim, o ciclo de redução da Selic foi acompanhado por um movimento de redução do spread bancário. É válido relembrar que tal dinâmica foi iniciada pelas instituições públicas de crédito em março de 2012. Após o ciclo de aumento da Selic, questiona-se: até que ponto a redução do spread pode ser considerada uma conquista mais duradoura?
Tendo como base os níveis de agosto de 2011, o gráfico mostra que, enquanto a taxa básica de juros esteve 12% menor que a de antes do início do ciclo de redução, o spread médio foi 17% menor. Ou seja, as taxas de juros cobradas no mercado ainda não teriam repassado todo o aumento da Selic, mantendo o spread menor.
Contudo é interessante diferenciar o spread conforme o tipo de empréstimo. Nesse caso, percebe-se que o spread médio do crédito com recursos direcionados manteve um patamar 28% inferior ao nível de agosto de 2011. Por outro lado, o derivado de recursos livres apresentou maior resistência à queda e recompôs-se rapidamente, resultando em um nível 8% menor do que aquele ao início do período.
Considerando-se o maior peso das instituições públicas no crédito direcionado, fica evidente que a redução do spread médio ainda depende da ação governamental para manter-se. A Selic cedeu. Resta saber por quanto tempo os bancos públicos irão sustentar esses níveis de spread.
Bruno Paim
Economista, Pesquisador da FEE