Um dos principais problemas das grandes cidades são os engarrafamentos causados, sobretudo, pelo aumento da frota de veículos. De 1999 a 2014, a população de Porto Alegre cresceu 10%, enquanto o número de automóveis cresceu 65%, e o de motos, 256%. Contribuíram para esse cenário o crescimento da renda real dos trabalhadores, os sucessivos aumentos das tarifas e a falta de qualidade dos transportes coletivos, a inexistência de linhas de metrô e os fortes incentivos ao transporte individual.
De fevereiro de 1999 a fevereiro de 2015, a inflação na RMPA medida pelo IPCA foi de 188%. No mesmo período, a tarifa de ônibus cresceu 364%, um aumento real de 61%. Se o preço da passagem fosse dividido por todos os passageiros, o aumento teria sido de 310%, um crescimento real de 42%. Essa diferença ocorre devido à ampliação do número de isentos, explicada, principalmente, pelo aumento da população de idosos e pela implantação da bilhetagem eletrônica. Por outro lado, o transporte individual está mais barato. Considerando todos os custos de andar de carro ou moto na RMPA, tem-se um aumento nominal de 142%, o que representa uma queda real de 16%.
Um estudo do IPEA com dados de 2003 e 2004 mostra que, do total de subsídios diretos ao transporte no Brasil, de 7,6% a 9,9% são direcionados ao transporte público, sendo o restante ao automóvel. A política de preços dos combustíveis também está incentivando o transporte individual: nos últimos 13 anos, o preço da gasolina em Porto Alegre subiu 120%, e o do diesel, 212%, segundo a ANP.
A orientação das políticas públicas mudou um pouco após os protestos de 2013. Além de uma alteração na forma de cálculo da tarifa recomendada pelo Tribunal de Contas do Estado, a redução de alguns tributos sobre o ônibus ajudou a reduzir, pela primeira vez, a tarifa em Porto Alegre. Essa pequena queda, entretanto, não foi suficiente para mudar significativamente a tendência de incentivo ao uso do carro verificada nas últimas duas décadas.